sexta-feira, abril 11, 2008

Vejo o passado para perceber o presente

Tenho que confessar uma coisa. Sei que não sou assim tão velho, mas também já não vou para novo. Nasci na década em que mudou o mundo: Nos anos oitenta (1980-1990). Mas vivi e cresci na década da confusão: Anos noventa (1991-2000). Por este motivo a minha geração nunca foi bem vista pelos mais velho.
Mas, olho agora para a geração que está por ai a nascer, e do mesmo modo que os mais velho faziam, pergunto: “Que futuro terá o nosso país?”.
Olho para o passado, aqui está a minha confissão, com uma certa nostalgia. Faço isso por uma simples razão. Digo e com certo orgulho que a minha geração cresceu com alguns valores de referência – Estou-me a lembrar, assim de repente, da grande série Rua Sésamo, onde valores da sociedade eram transmitidos de uma forma divertida e com espírito de descoberta.

Mas, olhando com mais cuidado, recordo-me de outras tantas coisas que a geração de hoje (rotulada de geração rebelde por uma série de TV dirigida à mesma) não tem como referência. Telemóvel! Só tive o meu primeiro com dezoito anos de idade, hoje há crianças com dez anos, ou menos, com esses aparelhos, passam o dia a mandar S.M.S uns aos outros, contendo os maiores assassinatos à língua portuguesa: “Oi! Komo tas? Tas fixe? Kéx (tradução: queres) sair com o people mais logo? Respd quando pudex (tradução: puderes). Nos meus dias, o que tínhamos no bolso era o velhinho jogo do Tétris, muitas foram as horas passadas para atingir o nível nove – Coisa que nunca consegui fazer. Para os mais avançados no tempo havia o jogo cujo objectivo era ajudar um sapo a atravessar uma rua cheia de carros a passar. Para as meninas: O Tamagotchi.

A minha geração passava os dias a ouvir todo o tipo de bandas que iam desde os Nirvana até aos Backstreet Boys passando, nos casos mais deprimentes pelos Onda Choc. Hoje há de tudo um pouco: Rock; Pop Rock; Hard Rock; R&B; Hip-Hop; RAP; Cantoras que, literalmente, vendem o corpo e não a musica que produzem. Enfim, um leque de escolhas sem fim e em que todos eles têm algo a transmitir, esteja ou não dentro do aceitável.

Voltamos à TV, lembro-me de séries como o A.L.F., MacGyver , Quem sai aos seus ou da série Knight Rider, séries que preenchiam o imaginário com heróis e aventuras ou que transmitiam os laços de família. Actualmente temos a série (ou telenovela?) Morangos com Açúcar, onde ser-se “fixe” é ter as suas próprias regras, ser-se rei ou rainha de si próprio. É uma séria repleta de estereótipos que, de todo, não representa, ou não devia representar, as camadas mais jovens.

Existem outras tantas recordações do passado como as sessões de cinema no Cine Vitória, das maratonas a ver os Jogos sem Fronteiras com comentários de Eládio Climaco, das noites de verão a comer pipocas na avenida, hoje substituídas pelos cachorros quentes, das barras de gelado do Esquimó aos domingos.
Olhando para os mais novos vejo um “mundo”, criado por eles, em que as regras são impostas por eles próprios. Vejo uma cultura, desligada da cultura mãe, onde os ideais são incutidos pelas séries de TV e pelas revistas. Esse “mundo” afastou alguns das normas mais importantes da sociedade. Dou um exemplo: No ensino surge a ideia que os membros dessa cultura não necessitam dos valores transmitidos pela escola, há a sensação que já são crescidinhos, ou seja, pensam que já são adultos e que já têm as informações necessárias. De facto, quando se tem acesso na Internet a todo o tipo de informação, sem que haja o controlo mínimo de muitos pais, é normal que se verifique esse sentimento.

A explicação, que eu encontro, para essa separação entre gerações está no facto de que a geração de noventa não deixou aos mais novos pontos de referência, ao contrário da geração anterior que utilizou e preservou muitos aspectos culturais da época.

Vivemos nos ideais da Chiclet (mastiga e deita fora) e em que tudo é visto como produto de consumo, até mesmo as normas e as regras de uma sociedade.

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